quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

O amor tem quatro olhos e duas bocas - Parte 6


Não voltei à procura dos sapatos. Durante semanas recusei as rosas vermelhas que eram entregues no meu quarto do hotel. Juntamente com o ramo de rosas, havia sempre um bilhete. Nunca ousei em abri-lo. Confesso que tinha medo do que nele estava desenhado com as suas letras. Tinha uma certa curiosidade em ver o que ali estava escrito e uma curiosidade ainda maior em saber como era a sua letra. Será que era tão perfeita como ele? Não queria que aqueles pensamentos invadissem a minha mente. Decidi não abrir nenhum daqueles cartões e disse que não a todos aqueles ramos grandiosos. Ele acabou por desistir. Se por um lado fiquei aliviada, porque o nosso envolvimento foi apenas sexo, por outro lado um sentimento de tristeza juntou-se ao meu sorriso. Não queria, de todo, viver outro amor. Ai que parva. A isto não se pode chamar amor, foi apenas sexo. Neste momento arrependi-me. E tudo que eu queria era viver sem arrependimentos. Vim para Paris para viver o dia de hoje sem pensar no amanhã. No entanto, não fui capaz. Sinceramente acho que nunca o vou ser.

No mês seguinte não pensei em mais nada, senão em mim. Esqueci a empregada e o sonho dela. Concentrei-me em mim e nos meus desejos. Nos meus caprichos. Fui pela primeira vez egoísta. Foi uma tentativa falhada para o esquecer. Eu sabia que para ele eu era apenas mais uma, num encontro sexual, mas ele deixava-me inquieta, feliz e psicologicamente dependente do calor do seu corpo. Chega! - disse para mim mesma. Saí da praia, onde me encontrava, fui para o hotel. Era noite de vestir um vestido vermelho sexy e esquecer tudo. Até o meu próprio nome. Só não pensava que ia ser surpreendida. 

Entrei no meu quarto e vi um vulto. Estupidamente disse: "Boa Noite". No momento seguinte recuei e pensei: És mesmo parva não vês que é um ladrão? Não consegui, os meus pés tinham uma cola inexistente colada ao chão. Fiquei ali à espera de uma resposta. As luzes acenderam-se. Pude ver imensas flores, de todo o tipo. Algumas conhecia, outras não. Estava um perfume delicioso naquele quarto. Ao fundo esta uma mesa perfeita para um jantar a dois. Ouvi uma voz vinda do fundo, certamente da varanda: "Desculpa isto tudo. Apenas não conseguia que saísses da minha cabeça, muito menos do meu coração... Tomei a liberdade de abrir o teu guarda-roupa e escolhi um vestido que fiquei fascinado. Está no quarto de banho. Arranja-te o melhor que puderes e demora o tempo que for preciso. Eu espero por ti". Eu, parva como sempre, morri de amores. Nunca ninguém fora tão querido. Dirigi-me à casa de banho. Não lhe disse nada. Tentei demorar o menos possível, mas creio que passasse de uma hora. Entre tomar banho, arranjar o cabelo, fazer a maquilhagem e escolher os acessórios perfeitos, sem parecer que ia demasiado produzida, mas sem me descuidar, foi, deveras, uma tarefa complicada. Porém, lá abri as portas. Durante 15 minutos os seus olhos focaram-se em mim. Foram os 15 minutos mais longos da minha vida. Ele estava calado e isso era muito constrangedor. Tentei falar, perguntar se estava bonita, se gostava de me ver assim, mas tinha receio da resposta. Decidi esperar pela dele até que o ouvi a fazer uma chamada para a empregada servir o jantar. Foi ao meu encontro e bem junto ao meu ouvido disse: "Desculpa mais uma vez e desculpa por estar sempre a pedir desculpa, mas tive de pedir que servissem um jantar. Estás deliciosamente fantástica e eu não sei por quanto tempo te vou resistir." Desta vez, falei. Fui capaz. "Não resistas" - disse ansiosa. 

A emprega entrou, estragando todo aquele clima. Acendeu as velas. Pude ver que o quarto estava todo ele decorado para esta noite. A empregada saiu e apagou as luzes...